A enfermagem moderna foi criada em 1860, pela inglesa Florence Nightingale, sendo instalada no Brasil, em 1922, por enfermeiras americanas da Missão Parsons, a pedido do dr. Carlos Chagas e do governo brasileiro. Em 1923, foi criada a Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), com apoio da Fundação Rockefeller (FR), dos Estados Unidos, com o objetivo de promover a profissão de enfermagem no País.
A Escola de Enfermagem (EE) da USP foi criada pelo Decreto-Lei Estadual nº 13.040/42, em 31 de outubro de 1942. Inicialmente a EEUSP estava anexada à Faculdade de Medicina da USP, mas funcionando em sede própria, com orçamento separado e sob a direção de uma enfermeira. Em toda sua existência, a escola contou com o protagonismo e liderança de diretoras e docentes pioneiras.
O Centro Histórico-Cultural da Enfermagem Ibero-Americana (CHCEIA) da EEUSP é o guardião da memória da escola e da história da enfermagem paulista e brasileira. Possui um Núcleo de Documentação e Memória (Nudom), que comporta os acervos fotográfico e jornalístico, objetos do cuidado em enfermagem, objetos da residência/internato na escola, banco de entrevistas, relíquias, documentos institucionais e de profissionais que dignificaram a profissão, como revelam suas histórias de vida.

Edith de Magalhães Fraenkel (1889-1969)

Edith Fraenkel foi a primeira diretora da EEUSP, exercendo a gestão de 1941 a 1955. Ela nasceu no Rio de Janeiro (RJ), sendo filha de diplomata. Dotada de vasta cultura e domínio de idiomas, acumulou diplomação nos cursos Normal, de Visitadora Sanitária e de Enfermagem, e liderou a enfermagem brasileira entre as décadas de 1920 a 1950. Ao lado de Bertha Lutz, lutou pela igualdade de gênero e defesa da mulher para escolher uma profissão e participar da vida política. Ela ingressou no mundo do trabalho como professora primária; tendo, posteriormente, atuado no combate à gripe influenza e foi chefe do Serviço de Visitadora Sanitária, do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP).

Edith foi aluna bolsista da Fundação Rockefeller, na Escola de Enfermagem do Hospital Geral da Filadélfia, Pensilvânia, EUA. Após a diplomação, trabalhou como instrutora de alunas na EEAN, sendo a primeira professora de enfermagem do Brasil, além de ter sido diretora de Enfermagem do DNSP e superintendente de Enfermagem do Ministério da Educação e Saúde.

Edith ingressou na direção da EEUSP, em 1941, sendo assessorada pela enfermeira americana Ella Hasenjaeger. Sua gestão foi marcada pela estruturação da escola com internato, na elaboração da matriz curricular dos cursos de auxiliar e de graduação em Enfermagem, na composição do corpo docente, na organização dos campos de estágios, na implantação da orientação discente, na instalação do exame final teórico-prático e construção da identidade institucional, caracterizada como Instituição de Ensino Superior (IES) com acolhimento a estudantes de diferentes gêneros, etnias e procedências.

Edith participou da criação e foi presidente da primeira entidade de classe da enfermagem brasileira, a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn-Nacional), em 1926, e da ABEn-SP, em 1945. Ajudou a criar o Congresso Brasileiro de Enfermagem (CBEn), em 1947; reestruturou a Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), em 1932; filiou a ABEn ao Conselho Internacional de Enfermagem (International Council of Nurses/ICN), em 1927; e ajudou na organização do 10º Congresso Quadrienal do ICN, em 1953, quando foi aprovado o primeiro Código Internacional de Ética da Enfermagem.

Edith atuou como assessora de enfermagem no Brasil e América Latina. Pelo legado, recebeu homenagens e, na Celebração do Jubileu de Prata da EEUSP, sua sucessora destacou o orgulho da instituição por ter como fundadora uma enfermeira de princípios e virtudes nobres.

Maria Rosa Sousa Pinheiro (1908-2002)

Maria Rosa foi a segunda diretora da EEUSP, exercendo a gestão de 1955 a 1978, sendo a primeira mulher a ocupar uma cadeira no Conselho Universitário da USP. Ela nasceu em Araraquara (SP), fez o curso de normalista e foi professora primária na capital. Na Universidade de São Paulo fez os cursos de Educadora Sanitária, na Faculdade de Saúde Pública da USP, e o Bacharelado em Letras Estrangeiras, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Cursou Enfermagem na Universidade de Toronto, Canadá, e fez mestrado na Universidade de Columbia, Nova York, EUA.

A direção de Maria Rosa ficou marcada pela desanexação da Escola da FMUSP, criação da Revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (REEUSP), em 1967, implantação do exame de seleção e exigência do ensino médio na matrícula; implantação da internacionalização e dos cursos de especialização, em 1971, e de mestrado, em 1973; e organização do doutorado interunidades, em parceria com a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP (EERP-USP).

Maria Rosa participou da criação da autarquia federal de regulamentação e fiscalização do exercício profissional da enfermagem brasileira, constituída pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) – Conselho Regional de Enfermagem (Coren), em 1973, sendo conselheira efetiva pioneira e primeira presidente em âmbito federal.

Maria Rosa foi presidente da ABEn-Nacional, editora da REBEn, instituiu o Código de Ética da ABEn, coordenou a pesquisa “Levantamento de Recursos e Necessidades de Enfermagem no Brasil”, delimitando o início da pesquisa e publicação científica da enfermagem brasileira; participou da Comissão de Peritos em Enfermagem da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas); foi assessora do Ministério de Saúde de Portugal e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Wanda de Aguiar Horta (1926-1981)

Wanda Horta foi a primeira enfermeira brasileira e docente da EEUSP a desenvolver uma teoria de enfermagem. Ela nasceu em Belém/PA, sendo filha de militar. Iniciou os estudos no Paraná e fez o curso de Voluntários Socorristas da Cruz Vermelha Brasileira e de graduação em História Natural. O gosto pela leitura e aprendizado de idiomas a fez uma profissional culta e dedicada à escrita de poemas e reflexões sobre a profissão.

Wanda Horta fez o Curso de Enfermagem na EEUSP, como bolsista da Secretaria do Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), sendo diplomada na Turma de 1948. Trabalhou como enfermeira assistencial em hospitais do Pará, Paraná e São Paulo. Em 1959, ingressou como docente da EEUSP. Para ascender na carreira, fez o curso de pós-graduação em Pedagogia e Didática Aplicada à Enfermagem. Na EEUSP, foi professora livre-docente, adjunta e titular, e inaugurou o empreendedorismo ao criar a Revista Enfermagem em Novas Dimensões. Na administração, foi chefe do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica.

Wanda Horta publicou artigos científicos; ministrou cursos e aulas na graduação e pós-graduação; foi membro de bancas examinadoras; orientou a primeira dissertação de mestrado em enfermagem do País, na EEAN; participou da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), do Comitê Assessor sobre Fundamentos de Enfermagem e da elaboração do Documento Básico de Introdução à Enfermagem da Opas e OMS, em Washington, EUA. Ademais, foi consultora sobre Consulta de Enfermagem, em Lisboa, Portugal.

Wanda Horta revolucionou a estrutura conceitual da enfermagem brasileira, na década de 1970, ao instituir a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), mediante a criação da Teoria das Necessidades Humanas Básicas (TNHB) e do Processo de Enfermagem (PE). Suas tecnologias para humanização do cuidado constituem um marco no processo de cientificidade da enfermagem brasileira, sendo aplicadas até hoje na assistência, ensino e pesquisa. Pelo legado, recebeu da EEUSP o título de Professora Emérita.

Taka Oguisso (1938-atual)

Taka Oguisso nasceu em Londrina (PR), sendo filha de imigrantes japoneses. Sua trajetória profissional é marcada por tripla diplomação, como enfermeira, advogada e sanitarista; e por ter sido a única enfermeira brasileira e docente da EEUSP a exercer carreira internacional como conselheira do ICN. Ela fez o Curso de Enfermagem na Cruz Vermelha Brasileira, Filial São Paulo, sendo diplomada em 1958. Fez o curso integral e o doutorado em Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública da USP, e pós-doutorado no Teachers College, na Universidade de Columbia, Nova York, USA, como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação Fulbright.

Taka Oguisso trabalhou como enfermeira assistencial no HCFMUSP e dirigiu o Serviço de Enfermagem do Hospital Brigadeiro. Foi professora de nível médio e diretora da Escola de Enfermagem Job Lane, sediada no Hospital Samaritano em São Paulo. Em 1973, ingressou na EEUSP como professora-assistente e galgou todos os degraus da carreira acadêmica até se tornar professora titular. Aposentou-se em 2013.

Taka Oguisso foi diretora da ABEn-SP e ABEn-Nacional, experiência que alavancou sua carreira internacional. No ICN, foi consultora e diretora executiva adjunta. Durante os 10 anos que trabalhou em Genebra, Suíça, deu visibilidade internacional à EEUSP e à enfermagem brasileira. No ramo do empreendedorismo, ajudou na criação da Federação Ibero-Americana de História da Enfermagem, da Academia Brasileira de História da Enfermagem (ABRADHENF) e do Grupo de Pesquisa História, Bioética e Legislação da Enfermagem da EEUSP. Seu legado profissional está materializado nas inúmeras publicações científicas, sendo referência em ética, legislação e história da enfermagem.

Ao revisitar a biografia dessas mulheres da ciência da enfermagem e que atuaram na EEUSP, destaca-se que a liderança profissional se deve ao vasto conhecimento cultural, técnico e científico; domínio de idiomas; disciplina e capacidade de trabalho, além da criação e presença ativa nas entidades de classe. Essas ilustres personalidades souberam honrar a escolha profissional e deram sua contribuição no desenvolvimento da prática e da ciência da enfermagem paulista, brasileira e latino-americana. Suas trajetórias são inspiradoras.

Nesses 90 anos da USP, ano em que a EEUSP completa 82 anos, o legado dessas mulheres pioneiras é uma marca distintiva do protagonismo da Escola de Enfermagem da USP na construção das bases e no desenvolvimento da profissão no País e além-fronteiras. A escola continua a construir sua história inspirada nessas grandes mulheres e nas que se sucederam.

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Anesilda Alves de Almeida Ribeiro – Foto: Assessoria de Comunicação da EE/USP
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Genival Fernandes de Freitas – Foto: Assessoria de Comunicação da EE/USP
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Vilanice Alves de Araújo Püschel – Foto: Assessoria de Comunicação da EE/USP

Presidente
Prof. Dr. Antônio Fernandes Costa Lima – 29/05/2023 a 26/05/2025

Vice-Presidente
Prof. Dr. Divane de Vargas – 29/05/2023 a 26/05/2025

Representantes do Departamento ENC
Prof.ª Dr.ª Angela Maria Geraldo Pierin (Titular) 11/09/2023 a 10/09/2026
Prof.ª Dr.ª Maria de Fatima Fernandes Vattimo (Suplente) 11/09/2023 a 10/09/2026

Representantes do Departamento ENO
Prof.ª Dr.ª Patricia Campos Pavan Baptista (Titular) 11/09/2023 a 10/09/2026
Prof.ª Dr.ª Valéria Marli Leonello (Suplente) 11/09/2023 a 10/09/2026

Representantes do Departamento ENP
Prof.ª Dr.ª Maiara Rodrigues dos Santos (Titular) – 07/02/2022 a 06/02/2025
Prof.ª Dr.ª Caroline Figueira Pereira (Suplente) – 07/02/2022 a 06/02/2025

Representantes do Departamento ENS
Prof.ª Dr.ª Suely Itsuko Ciosak (Titular) 11/09/2023 a 10/09/2026
Prof. Dr. Alfredo Almeida Pina de Oliveira (Suplente) 11/09/2023 a 10/09/2026

Representantes da Congregação (5º Membro)
Prof.ª Dr.ª Renata Eloah de Lucena Ferretti-Rebustini (Titular) – 15/10/2021 a 14/10/2024
Prof.ª Dr.ª Maria Amélia de Campos Oliveira (Suplente) – 15/10/2021 a 14/10/2024

Representante Discente
Thamires de Oliveira Rocha (Titular) – 06/02/2023 a 05/02/2024
Jéssica Garcia (Suplente) – 06/02/2023 a 05/02/2024

Observação:
– mandato dos membros: 3 anos – permitida a recondução
– mandato dos Representantes Discentes da Pós-Graduação: 1 ano