Marcadores Sociais das Desigualdades, saúde mental e a enfermagem

Uma aula aberta, muitos aprendizados...

No dia 19 de junho de 2024, a professora Jaqueline Lemos de Oliveira do departamento de Enfermagem Materno Infantil-Psiquiátrica (ENP), promoveu a aula aberta intitulada “Marcadores Sociais das Desigualdades, Saúde Mental e Enfermagem”.

A atividade compôs o cronograma da disciplina ENP 253 – Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica ministrada para os alunos do 5º semestre do curso de Bacharelado em Enfermagem, e foi realizada em parceria com o movimento de trabalhadores da rede de saúde pública da região oeste de São Paulo – Fórum Kilomboeste.

O Kilomboeste tem como proposta ser uma iniciativa antirrascista que discute sobre a aplicação de princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS), como equidade, integralidade e universalidade, no atendimento prestado à população negra, além do levantamento de questões sobre o racismo sofrido tanto pelos usuários quanto pelos trabalhadores e trabalhadoras do SUS. Ele é fruto do Fórum KilomBrasa que foi o pioneiro na discussão sobre o Aquilombamento da Saúde Mental.

O Aquilombamento da Saúde Mental é considerado um agir ético-político de modo equitativo e singular que afirma uma posição libertária e antirracista, valorizando os aspectos territoriais e culturais da população negra, o resgate dos saberes tradicionais, das teorias e ensinamentos africanos e diaspóricos da América Latina e Caribe, a descolonização das práticas terapêuticas, a (re)significação e nomeação das práticas terapêuticas de modo racializado e a aproximação dos serviços de saúde aos movimentos e coletivos que visem a equidade racial (1).

Neste sentido, a aula teve como foco principal a discussão sobre a saúde mental das populações mais vulnerabilizadas, considerando o recorte definido pelo marcador raça/cor.

As palestrantes foram as integrantes da Articulação Nacional de Enfermagem Negra (ANEN): Agostinha Francisca de Oliveira, Alva Helena de Almeida, Eliana Cristina dos Santos e Estefânia Ventura, além da discente de Doutorado da EEUSP Crislaine Loqueti Santos Rainho Prado.

Mais sobre cada uma delas a seguir.

Agostinha Francisca de Oliveira é Enfermeira Obstétrica e de 2010 a 2019 trabalhou na Cracolândia, São Paulo, com pessoas em situação de rua e uso problemático de substâncias, participando de programas como Centro Legal, Consultório na Rua, De Braços Abertos e Redenção. Na aula ela produziu reflexões a partir de sua atuação como enfermeira obstétrica e sobre suas experiências dos últimos anos no projeto “Faculdade de Experiência de Vida” que tem como princípio a equidade.

Alva Helena de Almeida é Enfermeira, Mestre e Doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem da USP. Ativista irrestrita pela defesa do SUS público, suficientemente financiado, SEM Racismo. Idealizadora da ANEN, ela contextualizou a importância do surgimento da entidade, a composição da força de trabalho da Enfermagem com recorte racial, a estratificação social e racial e o racismo institucional da área.

Eliana Cristina dos Santos é Enfermeira, mestranda da Escola de Enfermagem da USP, integrante da ANEN. Atuante com a população em vulnerabilidade social e (Cracolândias) experiência adquirida no Consultório na Rua. Relatou sobre sua trajetória de mulher negra trabalhadora doméstica que concluiu a graduação e passa a atuar nas ruas com a população em uso de substâncias.

Estefânia Ventura é Enfermeira no CAPSij da Brasilândia. Idealizadora do Coletivo de trabalhadores do SUS, SUAS Educação e Cultura chamado KilomBrasa. Em sua fala pautou a questão racial, o racismo, a branquitude e o Projeto Terapêutico Singular transversalizado racialmente.

Crislaine Loqueti Santos Rainho Prado é Enfermeira, mestra e doutoranda da Escola de Enfermagem da USP. Desenvolve pesquisa na área da Atenção Primária à Saúde com ênfase no trabalho em equipe e os marcadores sociais de iniquidades sob a perspectiva da interseccionalidade e apresentou para os participantes os resultados das pesquisas em que vem atuando, destacando a importância de se considerar o quesito raça/cor nas análises.

A aula foi uma oportunidade para a discussão sobre a racialização do cuidado não só para os alunos da disciplina ENP 253, como também os alunos que compõe o Coletivo Negro Sônia Barros da EEUSP, além dos trabalhadoras e trabalhadores do SUS integrantes do Kilomboeste.

Entende-se que atividades como essa são importantes para a formação de profissionais antirracistas e conscientes do seu papel social de ofertar o cuidado baseado na equidade, integralidade e universalidade.

Referências

David, Emiliano de Camargo. Aquilombamento da saúde mental: cuidado antirracista na atenção psicossocial infantojuvenil. 1ª ed. São Paulo: Hucitec, 2023.

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