Exposição fotográfica: A arte através do olhar!

No último dia 17 de maio a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) realizou uma roda de conversa com usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que participam da oficina de fotografia ofertada na Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Colombo, sob responsabilidade da Psicóloga Rosana de Freitas.

Rosana formou-se em 2008 pela Universidade Estadual Paulista- UNESP- Faculdade de ciências e letras de Assis, é tecnóloga em processos fotográficos pela Etec- Carapicuíba (2018); Atua há mais de 14 anos na rede de atenção à saúde de São Paulo.

Utiliza as Práticas Integrativas Complementares, Terapia Comunitária Integrativa, Hortiterapia e Arteterapia, como estratégias de cuidado.

É pela Arteterapia que ela oferece a oficina de fotografia. O projeto tem como objetivo a realização de intervenção psicossocial sob viés metodológico citado, da antropologia cultural e da pedagogia freiriana. Com intuito de apropriação e estímulo do convívio social/grupal, do desenvolvimento da consciência territorial e da pertença de si por meio do estímulo sensorial/imagético/grupal. O grupo é ofertado para toda a população sem critérios de idade ou condição de saúde.

É desenvolvido a partir da aplicação de diversas técnicas e metodologias para execução da proposta, como, breve explanação da história da fotografia e principais conceitos de captura de imagens: regra dos terços, espiral de fibonacci, composição fotográfica e etc; com captação de imagens (por meio de tour fotográfico no território), e discussão grupal acerca da produção imagética de cada participante: sua produção, significado, explanação e apropriação.

Os fotógrafos participantes dessa mostra foram: Anna Sarah Lopes, 13 anos; Arthur Lopes, 10 anos; Edison Mello, 65 anos; Isaac Lente Livre, 14 anos; Rhaissa Trindade, 13 anos; Richard Trindade Porcino, 15 anos; Thaianne Ribeiro, 14 anos; Valentina Seixas, 12 anos.

Eles relataram como foi a participação na oficina:

“ Eu achei ótimo descobrir novas coisas sobre a fotografia, tive novas experiências e consegui melhorar as minhas fotos.” (Anna Sarah A. Lopes, 13 anos)

Clique aqui

“Posso falar que a minha sensação de experiência em participar da Oficina de Fotografia da UBS Jd. Colombo (...), foi ver tão jovens alunos com tão bons Trabalhos. Que tão jovens, que tão sensíveis à Vida.” (Edison Mello,65 anos)

Clique aqui

“ Nesta oficina melhorei minhas fotos e foi muito divertido. Conheci pessoas novas e aprendi coisas que eu não sabia. “ (Rhaissa Trindade, 13 anos)

Clique aqui

“Foi muito zika participar dessa oficina,aprimorei minhas fotos e acho que já estou tirando fotos melhores.” (Richard Trindade, 15 anos)

Clique aqui

“ O curso me ajudou a melhorar as minhas fotos, aprendi coisas que não fazia ideia.”(Valentina Seixas, 12 anos)

Clique aqui

“Eu melhorei minhas fotos, conheci algumas coisas como a regra dos terços, o Fibonacci conheci o papel fotográfico foi muito bom“ (Arthur Lopes, 10 anos)

Clique aqui

“Participar da oficina de fotografia foi uma experiência incrível! Aprendi tanto sobre composição, iluminação e técnicas avançadas. Foi uma verdadeira imersão no mundo da fotografia. Além disso, conheci pessoas incríveis e compartilhamos histórias e dicas. Mal posso esperar para aplicar tudo o que aprendi em meus próximos projetos fotográficos. Definitivamente, uma experiência que nunca vou esquecer!” (Isaac Lente Livre, 14 anos)

Clique aqui

“(...) Amo tirar fotos e aqui consegui melhorar meu aprendizado sobre a fotografia e creio que ainda vou muito mais, amei conhecer cada pessoa desse grupo. Foi pouco tempo mas ao mesmo tempo creio que foi o início de tudo e ficará pra memória!”.(Thayane Ribeiro, 14 anos)

Clique aqui

Previous slide

Next slide

A iniciativa de levar a exposição para a EEUSP iniciou-se a partir da inserção de alunos na UBS pela disciplina Enfermagem em Doenças Transmissíveis com enfoque na Saúde Coletiva. Em contato com os professores da área de saúde mental (Jaqueline Lemos de Oliveira, Caroline Figueira Pereira, Divane de Vargas, Aline Conceição Silva, Carlos Alberto dos Santos Treichel, Maria do Perpétuo Nóbrega) os alunos apresentaram o projeto e o contato foi estabelecido.

A ideia principal foi de que a exposição representasse a comemoração do dia 18 de maio, que é o dia em que é comemorado o dia da Luta Antimanicomial. As fotos ficaram expostas do dia 13 ao dia 17, e no dia 17 os fotógrafos e a psicóloga Rosana estiveram na EE para realizar uma Roda de Conversa com os alunos da Universidade. Os professores relataram que foi um momento de muita troca onde os fotógrafos puderam compartilhar os sentimentos e as experiências que tiveram na oficina e o público pôde compartilhar com eles os sentimentos que suas produções mobilizaram em cada um. Além disso, eles fizeram um tour pela EE e foi muito importante para conhecerem a USP, que muitas pessoas ainda hoje não sabem que é gratuita e que todos podem ter acesso. A articulação entre a comunidade e a Universidade está sendo cada vez mais exigida por parte da sociedade, e necessária para a Universidade democratizar o acesso ao conhecimento produzido.

Os participantes relataram um pouco da experiência na Universidade:

Rhaissa Trindade: Gostei muito, eles foram muito gentis. Foi muito bom ouvir todos eles falando um pouquinho da nossa exposição e como eles gostaram, grata pelo convite, pela oportunidade de expor as fotos que eu tirei das quais representam a natureza.

Valentina Seixas: Foi uma experiência incrível. Eles foram muito atenciosos conosco, pudemos conhecer o lugar e pessoas incríveis. No geral, foi perfeito. Adorei participar e espero mais oportunidades como essa.

Richard Trindade: Foi muito legal, uma experiência única eles foram muito educados da parte deles por nos receber e deixar expor nossas fotos. Que possamos nos reencontrar novamente, obrigado.

Isaac Seixas (Isaac lente livre): Adorei participar, foram muito educados, quero agradecer por deixarem a gente expor, pretendo visitá-los novamente, obrigado por tudo.

Edison Mello: Foi tudo muito bom. Tivemos uma ótima recepção. Prazeroso ouvir os relatos de alguns alunos sobre a relação deles com a Fotografia.

Rosana: Acesso, pertença e ampliação do repertório de vida de cada um dos usuários do SUS, fotágrafes e artistas aglutinam minha experiência enquanto idealizadora e coordenadora da oficina de fotografia no que se refere a nossa visita e exposição na EE. Acesso pois quando fomos convidados e expus ao grupo a possibilidade da visita, o coletivo não vislumbrava a itinerância das obras com a apresentação dos artistas envolvidos para além da UBS Jardim Colombo, garantindo pertença a sua produção artística/imagética bem como enquanto a pertença de si/identitária: participantes de uma intervenção em promoção de saúde mental na atenção primária à saúde. Ampliação de repertório, no que circunscreve a questão de para muitos ali ser a primeira vez que pisavam em solo universitário o que nunca havia sido vislumbrado até então (inclusive por seus familiares). Sonhos foram despertados em relação a diversas nuances da vida dos fotógrafes a partir do convite e experiência real em estar na USP. Agradeço a todos envolvidos na exposição e em nossa visita. Foi marcante e ímpar em minha trajetória profissional.

Reforma Psiquiátrica e a Reabilitação Psicossocial – um breve histórico

A Reforma Psiquiátrica no Brasil iniciou-se na década de 1970 concomitante à Reforma Sanitária. Teve como expoente Franco Basaglia, psiquiatra que revolucionou o cuidado em saúde mental na Itália a partir da transição do tratamento de isolamento e violência nos hospitais, para a reinserção do usuário na sociedade, conhecida como a Psiquiatria Democrática Italiana. No Brasil, essa discussão veio à tona também com a ajuda dos movimentos sociais, como por exemplo, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental que lutava contra as condições precárias tanto de trabalho e falta de mão de obra, quanto de cuidado aos pacientes psiquiátricos, que eram submetidos à violência e exclusão¹.

A partir de então, as décadas de 70 e 80 foram marcadas por movimentos e eventos, como Congressos e Conferências Nacionais e Regionais de Saúde e Saúde Mental, que desencadearam discussões sobre mudanças nas organizações dos serviços, com enfoque no cuidado na comunidade. Tais movimentos resultaram na criação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) no Brasil, em 1987, na cidade de São Paulo, o CAPS Prof. Luiz da Rocha Cerqueira, hoje conhecido como CAPS Itapeva².

A partir da reestruturação dos serviços alcançada pela reforma, surge o modelo de cuidado da Reabilitação Psicossocial que considera o sujeito como cidadão de direitos e detentor de sua própria singularidade, contrapondo-se ao conceito de “doentes mentais”, em que o indivíduo era excluído e tutelado pelo estado³. A Reabilitação Psicossocial assegura o poder contratual da pessoa com transtorno mental valorizando suas potencialidades e possibilitando sua autonomia, além disso, tem como sustentação ações que sejam pautadas nos eixos trabalho, casa (morar) e relações sociais, possibilitando ao indivíduo sua reinserção na comunidade⁴.

Para tanto o cuidado em saúde mental é realizado em rede, pautado no vínculo, no cuidado contínuo e no acolhimento⁵ considerando os diversos atores/instituições como manejadoras deste em conjunto com o usuário do SUS, reforçando o seu protagonismo; direcionamento instituído pela Política Nacional de Saúde Mental instituindo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), composta por diversos atores e instituições em diversos níveis de atenção compartilhando a responsabilização e efetivação do cuidado em suas nuances: promoção, prevenção e recuperação⁶.

Referências

1- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.

2 – Amarante P. (org.) Loucos pela Vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Panorama/ENSP, 1995.

3 – Costa MIS, Lotta GS. De “doentes mentais” a “cidadãos”: análise histórica da construção das categorias políticas na saúde mental no Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2021;26:3467–79.

4 – Saraceno, B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Rio de Janeiro: instituto Basaglia/TeCorá, 2001.

5 – Nóbrega MPSS, Silva GBF, Sena ACR. Funcionamento da Rede de Atenção Psicossocial-RAPS no município de São Paulo, Brasil: perspectivas para o cuidado em Saúde Mental. In Investigação Qualitativa em Saúde/Investigación Cualitativa en Salud. 2016; Vol. 2:41-49. [S.l.]: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.

6 – Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Instrutivo Técnico da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) no Sistema Único de Saúde (SUS) [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Ações Programáticas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 52 p. : il.